31 maio, 2006

O RIO


Sonhei
que estava frente a um rio
e nele me joguei, me banhei,
afoguei, emergi e me salvei.
Ali fiquei nadando
de uma margem à outra.
Engoli muita água
e não mais me afoguei.
Não sei... era um rio...
Um longo rio
de águas ora claras,
ora turvas.
Por vezes se assemelhava
a um grande lago de águas calmas
e outras vezes me arrastava
em meio a um turbilhão.
Era um rio...
Mas no meu sonho se chamava vida.

Veludo

Já fui veludo?
Nem sei. Talvez sim.
Hoje sou um tapede felpudo
pra você repousar os seus pés.
Não sou tecido, nem feita de seda
ou qualquer coisa assim.
Não sou macia,
nem tenho espinhos.
Sou simples,
mera textura,
fazenda sem arremate.
Sou eu,
uma parte pano de chão,
outra tricotada a mão.
Delicada trama,
áspero toque.
Linhas frágeis,
destino miúdo.
Eu, pedaço pequeno,
restos de um veludo?
Não sei..
Sempre mudo.


Poema feito pro Vlad, que me dizia ser um "veludo".
Amigo e escritor. Vale a pena conferir seu blog:
http://pontesdisfarcadas.zip.net

O que somos nós?



"O mundo pode ser um palco, mas o elenco é um horror."


Oscar Wilde

pecadinhos...


"Errar é Humano, mas parece divino."
Mae west

tempestade


Nem toda tempesta é ruim...
Por vezes serve pra levar a poeira,
que cuidadosamente,
fora guardada sob o tapete...

hiato criativo


se o coração anda sem dono
o poeta perde as palavras.
fica assim..
no ócio,
no vício.
sem amor
e sem ofício.

vaga-lume

Pudesse eu
brilharia no céu
feito estrela.
Incapaz,
sou vaga-lume,
reluzindo à esmo
entre flores
sem perfume.

Pablo Picasso: "Eu não procuro.Eu encontro."

"A arte existe para perturbar. A ciência é que tranqüiliza. "
Georges Braque

Bolha de sabão

Tem pessoas que aparecem na vida da gente
pra testar o que somos...
Brincam com nossa essência,
desafiam nossa paciência,
testam nosso equilíbrio
e acabam por conseguir o que querem.
Por um tempo...
E nós, embasados nas parcas emoções que vivemos,
deixamos de lado pequeninas coisas,
que somadas, pesam mais
do que o outro vale.
E estas coisas,
as pequeninas,
o insignificante,
o outro,
o tudo,
o quase nada,
é apenas algo como
uma bolha de sabão.
Forma perfeita,
que flutua
encanta
e explode no ar.
Sem deixar marcas .
Nem saudade.

2006

boa educação


“Ah, minha boa educação de berço. Que cruz”

adeus

Foto José Carlos Egreja

O dia,
alheio à minha paixão,
impiedosamente amanhece.
Luz traiçoeira,
que sem pedir licença,
ilumina meu quarto
e me escurece
por inteira.
Fez-se a saudade
do que ainda é presença.
Fez-se o dia
de uma noite ilimitada.
Adeus,
palavra que em meu peito
morre sufocada.

Sem rumo..


"Quem não sabe o que procura, não percebe quando encontra."
"Quem não sabe o que quer, não merece o que tem."

Não foi só um sonho..

Anoiteceu,
estrelas pintam o céu
colorindo paixão.
É lua cheia
e cheia de lua
apago a luz
e acendo desejos.
Somos nós,
reinventando
a noite.
Diariamente.

Jan/2005